Em poucos olhares, desatentos até, pelo Facebook, notei um certo padrão
de postagem. Todos, sem exceção, tentam passar uma imagem de alegria e
felicidade eterna. Como se tudo fosse alegria, e a vida fosse resumida em fotos
bonitas e curtidas mil. Quem dera. Desconfio que pessoas assim não sabem o que
é um sentimento bom de verdade. Vejo muitas declarações públicas de amor, e não
duvido que sejam verdadeiras, aposto que são com a melhor das intenções. Mas
são verdadeiros shows. Cada vez encontra-se uma nova apresentação circense para
tentar demonstrar o maior de todos os sentimentos. É muito lindo, muito bonito,
e talvez meio exagerado. Que seja. Mas tem um outro detalhe que a população em
geral parece ter desaprendido: o amor está por trás das cortinas.
É quando o circo fecha, e as cortinas descem, que se encontram as
verdadeiras provas de amor. Amar na alegria, amar naquele cruzeiro pelo Caribe,
amar naquela foto sorridente da praia, cheia de curtidas, é muito fácil. Amar
quando tudo está em evidência e os rostos estão vibrantes para as câmeras e
olhares é bem fácil também. Mas sabe aquele sentimento que permanece, mesmo
quando as luzes se apagam, e ninguém mais está olhando? Esse é o amor, o
verdadeiro amor. É esse sentimento que faz com que as situações difíceis se
tornem suportáveis, e que o casal possa continuar unido, mesmo que o andar da
carroagem não seja tão alinhado quanto o esperado por todos aqueles olhares
externos, atentos aos flashes e fotografias.
Poucos (para não falar ninguém) irão presenciar aquele papo
descontraído, em que ambos ficam mais de hora sem se falar, apenas olhando um
para o outro (ou para outra coisa alheia na web). Poucos também serão os que
irão compartilhar daquele sábado em que nenhum dos 2 tem dinheiro para sair, e
os dois têm que ficar trancados dentro de casa, apenas esperando a hora passar.
Nem todos os momentos de um casal são dignos de declarações fervorosas no
Facebook, ou fotos com legendas musicais poéticas no Instagram.
Mas olha só que coisa, eu sou uma pessoa que gosta disso, que gosta
dessa coisa de ficar em silêncio, de não precisar receber uma declaração digna
de prêmio (ou Oscar) online para saber que sou amado por alguém. Eu sei que as
trocas de olhares, que por vezes duram horas, dizem muito mais do que todos
aqueles milhares de "likes" conquistados com uma foto romântica num
chalé em Campos do Jordão.
Muitas das vezes, o fato de estar com quem se ama será chato, e esse
mesmo fato de ficar apenas um olhando para as olheiras e cara de peixe morto do
outro pode ser bem desagradável. Mas no fim do dia, o mais importante será o
fato de permanecer juntos. Quando se entende o que o amor realmente é, todo o
resto do mundo deixa de ser importante, e aquelas curtidas no álbum da viagem
para o Chile deixam de ser importantes para o casal, sendo de valia apenas para
aqueles que "conhecem" o amor online. Aquele "eu te amo",
dado ao pé do ouvido, sussurrado, com todo o carinho e cuidado do mundo é
muito, mas muito mais significante do que todas as declarações postadas nas
redes sociais juntas. Assim como aquele passeio, em que os celulares ficaram no
carro, e eram apenas os dois e a natureza, será muito mais marcante do que
aquele selfie mostrando o prato do restaurante mais caro da cidade. Sabe o
porquê? Porque toda aquela experiência que só os dois viveram, sem qualquer
interferência do mundo, ficara para sempre registrada, mas não em fotos, e sim
na memória do casal.
Amor é aquele pensamento que vem na sua cabeça, logo depois de remover
as maquiagens, os cremes e todos os filtros de fotografia, e sobrar apenas
aqueles rostos lavados, com sono e cansaço. E é um pensamento mais ou menos
assim: "Caramba, como eu sou sortudo por ter conseguido alguém tão
especial."
No fim das contas, o amor dos bastidores é muito mais forte e complexo
do que aquele amor duma foto estática e sem vida que estampa o perfil do
Facebook. Sem sombra de dúvidas que existe amor nas redes sociais, mas se ele
só existir lá, pode ser facilmente trocado, assim como o status de
relacionamento.